Cotações do café voltam a disparar em NY com estoques nos menores níveis em 24 anos

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Porto Alegre, 10 de novembro de 2023 – Os preços do café voltaram a disparar nessa semana no mercado internacional. Na Bolsa de Nova York para o café arábica (ICE Futures US), que baliza a comercialização mundial, as cotações bateram nos patamares mais altos em praticamente 5 meses. Na Bolsa de Londres, o robusta também subiu, e o mercado físico brasileiro avançou da mesma forma nos valores praticados diante desse cenário externo altista.

O principal fator para os ganhos externos, nesse momento, é a dramática queda nos estoques certificados da Bolsa de NY. Eles estiveram nesta quinta-feira (08) em 302.235. É o menor patamar em mais de 24 anos. Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, o café engatou uma sequência de alta, rompeu a resistência gráfica e avançou acima da linha de 170 cents na ICE US, mostrando força de alta. “O mercado não só se distancia do fundo de preço do início de outubro, quando flertava com a linha de 140 cents, como indica uma mudança para cima no patamar de atuação, rompendo as amarras de acomodação de baixa. Alterou também o traçado da linha de tendência, reduzindo a inclinação negativa de longo prazo”, comenta.

Ele ressalta que essa alta nos preços está de fato ligada aos estoques certificados de café muito baixos na ICE US, no menor nível desde março de 1999, quando no fechamento do mês havia dentro dos armazéns credenciados na bolsa de NY apenas 243 mil sacas de café. “É bom notar que houve um movimento similar de queda nos estoques nesse período no ano passado, o que mostra o contrato de dezembro em NY bastante vulnerável a esses gargalos na oferta certificada”, avalia.

Para ele, o resultado prático é que o interesse de compra continua bem acima da venda (squeezado), o que serve de suporte aos preços. O vencimento dos contratos de opções do contrato dez/23, no próximo dia 10, associado ao 1º dia de notificação de entrega física também da posição dez/23, no dia 21 de novembro, acabam acelerando a cobertura de posições dos comprados, diz. “E potencializam a dinâmica de alta dos preços do café em bolsa. O dólar fraco, especialmente contra o real, e a alta do petróleo, contribuíram com ganhos para o café no terminal nova-iorquino”, destacou.

A força do movimento de alta em NY deve ser colocada em xeque superado esse estresse das rolagens do contrato dezembro 2023, quando o contrato março/24 assumirá definitivamente as rédeas do mercado, diz Barabach. “É bom notar que o contrato mar/23 já assumiu o protagonismo, carregando o maior número de posições em aberto. Mas, como a transição entre os contratos ainda não está completa, segue a influência de alta das rolagens”, comenta.

Barabach salienta que a chegada do vencimento mar/24 aproxima mais o mercado da nova safra brasileira, que começa a ser colhida entre abril e maio de 2024. “Além de refletir de forma mais efetiva o fluxo de café novo de outras importantes origens, como o robusta do Vietnã, cuja oferta de café novo deve ganhar intensidade a partir do final de novembro e início de dezembro, e dos suaves da Colômbia e América Central”, aponta.

O consultor adverte que, no lado fundamental, não há, por enquanto, fatores de suporte para uma guinada de alta nos preços. “O abastecimento segue tranquilo no físico, especialmente para o arábica. Há expectativa de crescimento, mesmo que modesto, na produção de Vietnã e Colômbia, assim como o Brasil deve colher outra safra cheia em 2024, maior até que a colhida esse ano, puxada de novo pelo avanço na produção de arábica. No lado da demanda, percebe-se ainda um fluxo arrastado de compras diante de incertezas políticas, econômicas e financeiras globais”, indica.

No balanço semanal do arábica na Bolsa de NY, o preço no contrato março/2024 subiu de 169,15 centavos de dólar por libra-peso no fechamento da sexta-feira (dia 3) para 174,20 centavos no fechamento desta quinta-feira (dia 9), uma alta de 3%. Em Londres, no mesmo período, o contrato janeiro/2024 avançou 2,4%.

No mercado físico brasileiro de café, as cotações acompanharam o movimento das bolsas. Barabach indica que os cafés arábicas de bebida boa e fina, destinada à exportação, seguem mais valorizados, aproveitando o rally em NY. “É normal o café encontrar espaço para alta depois de superada a pressão da entrada de safra. Mas a grande produção colhida esse ano no Brasil e a postura mais curta da demanda inibia uma investida de alta mais significativa nos preços. A queda nos certificados e a baixa do dólar ajudou a quebrar essas amarras, dando impulso aos ganhos e facilitando a vida dos produtores”, avalia. Ele diz que é importante o produtor aproveitar o bom momento para diluir posições de venda tanto no disponível como também com a safra futura.

Mas não só os cafés de bebida mais fina avançaram, o café rio e o conilon também subiram na “onda” das bolsas. No balanço da semana, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais subiu 2,9%, de R$ 870,00 para R$ 895,00 a saca na base de compra (entre os dias 03 e 09). Já o o conilon tipo 7 em Vitória, Espírito Santo, avançou de R$ 635,00 para R$ 660,00 a saca, elevação de 3,9%.

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     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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